"Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?"
Manaus (AM),
21/04/2020 - Covas abertas no Cemitério Parque de Manaus, no bairro Tarumã, em
Manaus. Sandro Pereira/Fotoarena/Agência O Globo
Existe
nas redes sociais uma cobrança de uma pequena parcela de "pais" ou
"responsáveis" para que se faça aulas remotas. Essas podem ser
compreendidas pelo senso comum como: EaD ou utilização das TIC's (Novas
Tecnologias na Educação). Uma das alegações seria que o Estado da Bahia estaria
enviando atividades remotas. Essas atividades do Ensino Médio (Estado) podem ser
caracterizadas como voluntárias e que não contam no calendário escolar como
aulas. Assim não podem ser descontadas nos 200 dias letivos e nem nas 800 horas
anuais.
Cronologia: de
pneumonia misteriosa a mais de 150 mil mortes por covid-19
Uma
vez que já explicamos que o Estado não serve de parâmetro para o Município
podemos avançar. A Organização Mundial da Saúde descreveu que interromper as
aulas agora é salvar a vida de seu filho (a). Por que? O Município de Teixeira
de Freitas, não tem como enviar as atividades online, não existe uma plataforma
e a maioria das nossas crianças e jovens não tem um computador de mesa ou notebook
em casa. Se eu tenho um estudante que tira 10 na maioria das matérias e tem
toda a estrutura para continuar nesse ritmo a preocupação deve ser com aquele
que não tem internet, computador e nem meios para fazer as atividades. É nesse
contexto que defendemos que não podemos forçar os pais e responsáveis que
precisam comprar gás e pagar as contas de água, energia, aluguel, entre outros débitos
a arcar com mais um. Ser obrigado a investir em internet. Não que isso não seja
importante, mas a prioridade agora é comer, beber, vestir, pagar o aluguel. Tudo isso para
permanecer dentro de casa e na medida do possível diminuir o contato.
Live Coronavírus de
20/03 - O que o Brasil precisa fazer nos próximos dias. #FiqueEmCasa
Se
concordar que as crianças e jovens devem ter atividades teremos que fatalmente
ter contato e assim como em Manaus (ver imagem que abre essa reportagem) teremos famílias inteiras ou uma parte delas
enterradas em vala comum. Somos educadores e mesmo que muitos nos critiquem a
vida dos nossos estudantes está acima de tudo.
Outra
questão fundamental é que algumas dessas pessoas que cobram a volta as aulas
não tem seus filhos nas escolas públicas. Elas ou uma parcela delas estão vinculadas a algum
político local e ocupam um contrato temporário, ou seja, são
contratadas que precisam urgentemente que as aulas retornem para exercer seu
papel de fazer da escola um local de curral eleitoral e tentar conseguir votos
de cabresto. A postura dessa pessoa expressa o medo de ter a quebra de contrato
tendo em vista que as unidades escolares não estão funcionando. Do outro lado,
temos uma parcela dos políticos locais tendo medo de perder o voto dessa pessoa
que pode se tornar desempregado (a) em um momento em que o desemprego já
alcança os 13 milhões no Brasil. Tanto os contratados que ocupam cargos públicos
quanto uma pequena parcela de vereadores, colocam a vida da população em
risco e demonstram que não tem nenhum
sentimento de compaixão ou apreço pela população. O que nos consola é o fato
deles serem minorias! Tanto o político quanto essas pessoas que cobram o
retorno nunca foram na escola fiscalizar a merenda que seu/sua filho/a come.
Quando chove nunca compareceram à escola. E quando a Secretaria Municipal de
Educação deixa faltar nas unidades escolares professor (a), essas pessoas nunca foram cobrar o direito do seu filho ou
filha de ter essas aulas. Muito ao contrário, esse político se silencia para
não perder os cargos que podem ser traduzidos em votos!
Fonte/Ministério da Saúde/UOL
Equador: sistema de saúde e funerário entram em colapso! Corpos são deixados nas ruas!
Os
dados da Secretaria de Saúde Municipal não batem com o que dizem os melhores
médicos sanitaristas mundiais. Aqui os casos sempre são curados e crescem aritmeticamente
(1, 2, 3, 4, 5, 6 etc). Os melhores médicos sanitaristas e estudiosos da área
descrevem que o vírus tende a se multiplicar geometricamente (1, 2, 4, 8, 16, 32,
64). Das duas coisas uma: 1) a Secretaria de Saúde não está sabendo contar! 2)
Pode estar escondendo a verdade sobre os óbitos como aconteceu na Itália,
Espanha e Estados Unidos. O resultado todos já sabem! Mas no final a conta vai
chegar! Nós educadores não podemos colocar crianças e jovens que são
vulneráveis expostos ao vírus.
Portanto,
não ter aula agora não é uma vontade dos professores. É uma orientação da
Organização Mundial da Saúde. Aqui em Teixeira de Freitas setores que nunca
ocuparam as ruas para lutar pela melhoraria da educação pública e pouco ou nada
fizeram estão cobrando que se tenha "aula virtual". Para esses só
podemos dizer que nossa vontade era estar em sala, mas não estamos lá para
salvar a vida dos nossos alunos (as) e de suas famílias. O que precisamos é
cobrar do setor público que melhore as condições para o (a) filho (a) do
trabalhador (a) ter acesso a uma educação pública de qualidade. "O covid-19 vai passar mas, aqueles professores
que têm compromisso com seu filho(a) não passarão!" Diante disso, mais uma vez contamos com o apoio
de toda comunidade teixeirense, pois não estamos em sala para salvar vidas!
ezenas de covas são
abertas no Cemitério da Vila Formosa, em SP André Penner/AP
Coordenador Pedagógico da Rede Estadual da Bahia. Professor de História da Rede Pública Municipal de Teixeira de Freitas. Vice-Diretor da APLB - Sindicato Delegacia do Extremo Sul.