“Os homens fazem a sua própria
história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as
gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Karl Marx)
Olá, mais um dia que nos foi permitido atuar. O que
quero dizer com isso? Mesmo diante das dificuldades, das atrocidades, das
condições adversas em que estamos inseridos, podemos agir de forma solidária
com compromisso e tendo como base a ética.
Sei que a identidade
do coordenador pedagógico ainda não encontra espaço pleno nas escolas. Em
algumas sequer encontra espaço. Também sei que muitos colegas continuam fazendo
seu trabalho grandioso, mas para quem não é do campo, ele não é visível. Nesse
contexto, as mudanças não são poucas e muitas delas nos incorporam sem o nosso
conhecimento ou participação. Diante disso, em determinados momentos nos
sentimos desamparados pelo sistema. Até mesmo uma parcela dos colegas não
conseguem ver sentido no fazer pedagógico e as vezes nos deixam sozinhos. É uma
luta para que as dúvidas não virem incertezas, uma batalha para que as
reflexões não desaguem em ceticismo. E que essa sensação de solidão e desamparo
não alimente uma depressão. Como em uma espécie de guerra alguns sucumbem nas
trincheiras da educação sem qualquer apoio para os dias vindouros. Para esses o
sistema os trata como algo descartável que serviu, mas agora não tem mais
utilidade. Esses amargam o limbo. Não estou inclusos do trabalho por doenças
que foram adquiridas nele, mas não podem deixa-lo pelo fato de depender dele
para adquirir remédios e custear sua sobrevivência. Estão de quarentena, no
limbo ou como determina a lei: readaptados. Mesmo assim, algumas pessoas ao se
dirigirem ao coordenador pedagógico o colocam como aquele que pode mudar tudo
de forma utópica e triunfal. Não negamos a utopia, mas partimos de realidades e
contextos diferentes e que eles devem ser levados em conta no momento desse projeto utópico.
Outra
questão, é fato do CP ser visto -
por muitos, diga-se de passagem - como uma espécie de panaceia dentro das escolas (remédio para todos os males da
educação), mas muitos se esquecem que essas mudanças em muitos pontos de conjuntura e estrutura independem desse profissional. Persistem que todo
problema que não foi solucionado ou quando querem dizer que algo não tem
qualidade é comum a falácia: “Isso é pedagógico!”. Até mesmo quando querem
desqualificar a qualidade de um biscoito muitos dizem: “Esse biscoito é
pedagógico”.
Diante de tal contexto em que meus companheiros/as
de lutas e sonhos se angustiam na tentativa de fazer o melhor posso lhes dizer:
Lembrem - se que as mudanças são em
três dimensões:
A
primeira,
"macroestrutural". Essas são grandes como as ondas e pouco ou nada as
vezes podemos fazer de forma imediata.
A
segunda,
"medioestrutural". Como aquelas ondas que chegam na praia já
enfraquecidas pelos ventos do sistema e não são tão sentidas com tanta força de
forma imediata. O que não quer dizer que não façam tanto ou mais estragos que
as primeiras. Sobre essas podemos atuar de forma um pouco mais significativa.
A terceira,
que chamo de chão da escola ou "microestrutural". São aquelas espumas
que observamos na beira da praia e parecem não ter nenhuma força para as
mudanças necessárias, mas são elas que forjam as resistências e as
possibilidades de fazer com que as utopias se tornem realidade. Aqui vamos
defini-las como o “chão da escola”. Elas são vivenciadas por nós, como um sistema
que podemos reproduzir ou contribuir
para a nossa emancipação, porém é
sobre elas que temos maior domínio. E pasmem, pois é nelas que podemos mudar
todas as outras.
Diante do exposto, posso retomar que essa união,
esse amor e encanto pelo que fazemos também fazem parte da nossa identidade. Essa tem
sido constantemente negada pelo sistema e até mesmo negadas por nós. Do que
estou tratando? Da negação de nossa identidade como intelectual orgânico[1], com possibilidades
de fomentar as mudanças em nós, no outro e no meio em que estamos inseridos.
Quando agimos dessa forma mudamos o meio, mas nos transformamos nesse processo
de construção e reconstrução de nós e da nossa identidade.
Sobre
isso gostaria de defender que precisamos continuar tendo a sabedoria para mudar
o que podemos e quando não puder de
forma integral, precisamos mesmo assim contribuir de alguma forma naquilo que
podemos para avançar. Além disso, em alguns momentos, aceitar o que hoje não
podemos transformar e que estamos impossibilitados de contribuir. Mas mesmo
nesse contexto adverso, devemos lutar coletivamente para criar ou buscar
estratégias para sua transformação, sempre de forma coletiva.
Com base no que foi escrito acima que a gente
continue sendo e tendo sabedoria para distinguir as três dimensões que foram citadas no início desse texto. Muitas das mudanças e utopias que
queremos para a educação pública, gratuita e laica não estão em nossas mãos, mas se encontram justamente com
aqueles que investem fortemente contra ela. E isso, não estou falando
apenas do governo Federal, Estadual e Municipal, mas do grande capital e da sua
capacidade de fazer aprovar leis que nos engessam dentro das unidades escolares
e negam a possibilidade de construção dessa mesma identidade.
Portanto, que a gente continue sendo esse ser humano
que fomenta as mudanças. E que no processo de construção e reconstrução
das identidades, que a gente possa
fazer as mudanças possíveis e ao mesmo tempo necessárias, mas para isso é
preciso saber qual necessidade é mais necessária e qual possibilidade é mais possível.
André
Almeida - Coordenador Pedagógico - Posto da Mata - NTE 7
Data:
14/02/2019
[1] Intelectual orgânico é um tipo de
intelectual que mantém-se ligado a sua classe social originária, atuando como
seu porta-voz.