sábado, 15 de fevereiro de 2020

A identidade do (a) coordenador(a) pedagógico(a): em busca de uma educação gratuita, laica e de qualidade


“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Karl Marx)

Olá, mais um dia que nos foi permitido atuar. O que quero dizer com isso? Mesmo diante das dificuldades, das atrocidades, das condições adversas em que estamos inseridos, podemos agir de forma solidária com compromisso e tendo como base a ética.

Sei que a identidade do coordenador pedagógico ainda não encontra espaço pleno nas escolas. Em algumas sequer encontra espaço. Também sei que muitos colegas continuam fazendo seu trabalho grandioso, mas para quem não é do campo, ele não é visível. Nesse contexto, as mudanças não são poucas e muitas delas nos incorporam sem o nosso conhecimento ou participação. Diante disso, em determinados momentos nos sentimos desamparados pelo sistema. Até mesmo uma parcela dos colegas não conseguem ver sentido no fazer pedagógico e as vezes nos deixam sozinhos. É uma luta para que as dúvidas não virem incertezas, uma batalha para que as reflexões não desaguem em ceticismo. E que essa sensação de solidão e desamparo não alimente uma depressão. Como em uma espécie de guerra alguns sucumbem nas trincheiras da educação sem qualquer apoio para os dias vindouros. Para esses o sistema os trata como algo descartável que serviu, mas agora não tem mais utilidade. Esses amargam o limbo. Não estou inclusos do trabalho por doenças que foram adquiridas nele, mas não podem deixa-lo pelo fato de depender dele para adquirir remédios e custear sua sobrevivência. Estão de quarentena, no limbo ou como determina a lei: readaptados. Mesmo assim, algumas pessoas ao se dirigirem ao coordenador pedagógico o colocam como aquele que pode mudar tudo de forma utópica e triunfal. Não negamos a utopia, mas partimos de realidades e contextos diferentes e que eles devem ser levados em conta no momento desse projeto utópico.

Outra questão, é fato do CP ser visto - por muitos, diga-se de passagem - como uma espécie de panaceia dentro das escolas (remédio para todos os males da educação), mas muitos se esquecem que essas mudanças em muitos pontos de conjuntura e estrutura independem desse profissional. Persistem que todo problema que não foi solucionado ou quando querem dizer que algo não tem qualidade é comum a falácia: “Isso é pedagógico!”. Até mesmo quando querem desqualificar a qualidade de um biscoito muitos dizem: “Esse biscoito é pedagógico”.
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Diante de tal contexto em que meus companheiros/as de lutas e sonhos se angustiam na tentativa de fazer o melhor posso lhes dizer:

Lembrem - se que as mudanças são em três dimensões:

A primeira, "macroestrutural". Essas são grandes como as ondas e pouco ou nada as vezes podemos fazer de forma imediata.

A segunda, "medioestrutural". Como aquelas ondas que chegam na praia já enfraquecidas pelos ventos do sistema e não são tão sentidas com tanta força de forma imediata. O que não quer dizer que não façam tanto ou mais estragos que as primeiras. Sobre essas podemos atuar de forma um pouco mais significativa.

 A terceira, que chamo de chão da escola ou "microestrutural". São aquelas espumas que observamos na beira da praia e parecem não ter nenhuma força para as mudanças necessárias, mas são elas que forjam as resistências e as possibilidades de fazer com que as utopias se tornem realidade. Aqui vamos defini-las como o “chão da escola”.  Elas são vivenciadas por nós, como um sistema que podemos reproduzir ou contribuir para a nossa emancipação, porém é sobre elas que temos maior domínio. E pasmem, pois é nelas que podemos mudar todas as outras.

Diante do exposto, posso retomar que essa união, esse amor e encanto pelo que fazemos também fazem parte da nossa identidade. Essa tem sido constantemente negada pelo sistema e até mesmo negadas por nós. Do que estou tratando? Da negação de nossa identidade como intelectual orgânico[1], com possibilidades de fomentar as mudanças em nós, no outro e no meio em que estamos inseridos. Quando agimos dessa forma mudamos o meio, mas nos transformamos nesse processo de construção e reconstrução de nós e da nossa identidade.

Sobre isso gostaria de defender que precisamos continuar tendo a sabedoria para mudar o que podemos e quando  não puder de forma integral, precisamos mesmo assim contribuir de alguma forma naquilo que podemos para avançar. Além disso, em alguns momentos, aceitar o que hoje não podemos transformar e que estamos impossibilitados de contribuir. Mas mesmo nesse contexto adverso, devemos lutar coletivamente para criar ou buscar estratégias para sua transformação, sempre de forma coletiva.

Com base no que foi escrito acima que a gente continue sendo e tendo sabedoria para distinguir as três dimensões que foram citadas no início desse texto. Muitas das mudanças e utopias que queremos para a educação pública, gratuita e laica não estão em nossas mãos, mas se encontram justamente com aqueles que investem fortemente contra ela. E isso, não estou falando apenas do governo Federal, Estadual e Municipal, mas do grande capital e da sua capacidade de fazer aprovar leis que nos engessam dentro das unidades escolares e negam a possibilidade de construção dessa mesma identidade.
Portanto, que a gente continue sendo esse ser humano que fomenta as mudanças. E que no processo de construção e reconstrução das identidades, que a gente possa fazer as mudanças possíveis e ao mesmo tempo necessárias, mas para isso é preciso saber qual necessidade é mais necessária e qual possibilidade é mais possível.


André Almeida - Coordenador Pedagógico - Posto da Mata - NTE 7

Data: 14/02/2019



[1] Intelectual orgânico é um tipo de intelectual que mantém-se ligado a sua classe social originária, atuando como seu porta-voz.

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